top of page
Mikaely Pedroso

Sade Girl: como o TikTok reemerge estéticas superficiais e impulsiona o consumismo em massa

Helen Folasade Adu, mais conhecida como Sade, é cantora e uma das maiores referências do smooth jazz e soul no mundo da música, eternizada por sucessos como "No Ordinary Love", "Smooth Operator" e "The Sweetest Taboo". Além de sua voz suave e composições atemporais, Sade conquistou uma nova geração com seu estilo único, tornando-se um ícone estético em 2024. A tendência "Sade girl" é uma interpretação visual inspirada na cantora anglo-nigeriana, que resgata seu visual icônico — roupas minimalistas, maquiagem elegante e penteados sofisticados que definiram os anos 1980 e 1990 —, ganhando força nas redes sociais, especialmente no TikTok.


Moda Minimalista ou Homenagem Superficial?


Ao comparar o estilo original de Sade com a nova tendência, fica evidente que a estética é o foco principal dessa viralização, em detrimento de uma conexão real com a essência da artista. Enquanto Sade era reconhecida por sua elegância minimalista, marcada por peças simples e elegantes, com seu batom vermelho e penteados discretos, a versão moderna que se tornou viral dessa estética parece descontextualizada e apropriada superficialmente.


Em uma entrevista, Adu comenta:


Divulgação: reprodução

"Eu não gosto de coisas chamativas ou extravagantes. A simplicidade é a chave, parecer sutil sem parecer sem graça. Três anos na escola de arte (St. Martin) provaram o que eu sempre acreditei: você não pode parecer diferente só por ser exagerado. Nada disso parece muito extremo mais, de qualquer forma.


A maneira como me visto mudou muito pouco nos últimos anos. Mas, quanto ao meu estilo, bem, todo estilo é completamente individual, muito pessoal e difícil de falar sobre. É obviamente importante, mas precisa ser natural. Se as pessoas tentam demais, acabam parecendo envergonhadas e constrangidas. Se você não está confortável com o que veste, não consegue se portar com convicção. Você também não pode forçar o estilo... ele não pode ser muito espalhafatoso, senão você acaba com aquele terrível ar parisiense de 'mais chique que você'. Se você levar tudo muito a sério, chega perto do ridículo. Você não pode perder o senso de humor.


[...] Eu não suporto todas essas coisas 'estilosas' clichês. Pele, babados, penas e renda devem ficar no guarda-roupa da sua avó. Por mais que eu ame minha avó, não quero me parecer com ela."


A releitura contemporânea foca em recriar a imagem rentável, muitas vezes sem considerar a profundidade de sua personalidade e legado musical. O que torna essa tendência viral são os elementos-chave que remetem à simplicidade e sofisticação: jeans clássicos, camisas estruturadas e acessórios discretos, mas impactantes. Essa tendência ilustra como, no universo digital, a estética pode ser dissociada de sua origem, sendo adotada por novas gerações com finalidades puramente visuais.


A estética como consumo na era digital


O TikTok, rede social de vídeos rápidos muito famosa entre os jovens, desempenha um papel fundamental na reinterpretação e disseminação de estéticas na cultura contemporânea. A plataforma permite que qualquer usuário crie e compartilhe conteúdos curtos e altamente visuais, nos quais a estética se torna protagonista. Com um algoritmo que prioriza o engajamento, o ciclo rápido de "virais" faz com que tendências sejam lançadas, absorvidas, modificadas e saturadas rapidamente, gerando novas variações em um ciclo que parece não ter fim. O estilo "Sade girl" é um exemplo claro de como a reprodução de estéticas se transforma em uma forma de distinção e validação nas mídias digitais. Nessa dinâmica, o consumo se torna não apenas material, mas profundamente visual e simbólico, influenciando práticas culturais e típicas do capitalismo.


Resultados da busca por "sade girl aesthetic" na rede social de imagens, Pinterest.

 

Cultura do consumo  


A estética tem um papel central na lógica do consumo atual. A ênfase na aparência em detrimento do conteúdo reforça a ideia de superficialidade. Para o sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard, o ato de consumir agora se torna uma linguagem, em que objetos funcionam como códigos sociais. Nesse contexto, o consumismo e os meios de comunicação de massa criam uma realidade simulada, na qual representações — como imagens, produtos e marcas — se tornam tão frequentes e dominantes que a distinção entre o real e o imaginário se dissolve. Dessa forma, os usuários consomem produtos e aderem a tendências que facilitam a construção de uma imagem idealizada, muitas vezes sem questionar o significado mais profundo ou a autenticidade do que está sendo representado.


O anseio de ter e a problemática do consumir


De acordo com Zygmunt Bauman, filósofo e sociólogo polonês, o consumismo é movido tanto pelo prazer quanto pelo medo. As pessoas consomem em busca de prazer imediato, mas também pelo medo de não acompanharem os padrões sociais, criando uma identidade temporária e frágil, sujeita a mudanças conforme as tendências e novas mercadorias.


Nas redes sociais, a busca por validação estética se torna uma forma de alcançar reconhecimento. Quanto mais alguém replica uma estética com precisão, mais recompensas em forma de likes, comentários e seguidores essa pessoa recebe — a moeda de troca da era digital. Em Status Update: Celebrity, Publicity, and Branding in the Social Media Age, Alice Marwick argumenta que o conceito de microcelebridade e a construção de uma "marca pessoal" dominam as redes, onde o sucesso está diretamente ligado à capacidade de se apresentar de maneira atraente e aspiracional.


Plataformas como o TikTok, que priorizam vídeos curtos e visuais, reforçam essa superficialidade. O conteúdo se torna mais raso, focado na aparência. Logo, isso incentiva o consumo de imagens fáceis de digerir, transformando tendências em uma cultura onde a conformidade e a busca pela estética perfeita prevalecem.


Entre o Ícone e a Efemeridade


Divulgação: reprodução

A estética "Sade girl", inspirada no estilo minimalista e refinado de Sade Adu, exemplifica como as redes sociais reavivam estéticas superficiais e impulsionam o consumismo em massa. Ao transformar a imagem em mercadoria, essas plataformas incentivam um ciclo incessante de consumismo, no qual os usuários se veem compelidos a adquirir produtos que os aproximem de um ideal estético, sem refletir sobre o significado por trás dessa busca (ou sequer conhecer profundamente a artista na qual se inspiram).


Em uma era hiperconectada, onde as tendências surgem e desaparecem rapidamente, essa nova estética ilustra o impacto das redes sociais na forma como consumimos e validamos nossa identidade. Cada peça de roupa ou produto de beleza que aparece em um vídeo na For You de um usuário alimenta o desejo de imitação, promovendo uma cultura de consumo rápido, superficial e altamente influenciada pelas tendências estéticas digitais.

2 comentários

Posts recentes

Ver tudo

2 Comments


lucas fernandes
lucas fernandes
Oct 06

A cultura do consumo reflete um estado crescente de superficialidade na sociedade. A ênfase na estética, especialmente com o avanço das redes sociais, distorce nossa relação com os objetos e com nós mesmos. As pessoas passam a consumir para se encaixar em padrões e expectativas sociais, muitas vezes de forma inconsciente, buscando validação e pertencimento.


O mais problemático nesse cenário é o impacto emocional e psicológico que esse ciclo de consumo gera. Ao focar tanto na imagem e em tendências passageiras, muitos se afastam de uma busca mais autêntica por significado, identidade e realização pessoal. A constante necessidade de se alinhar ao que está "em alta" pode ser exaustiva e, em muitos casos, vazia.


A estética consumista e a busca…


Like

danilolacerda619
Oct 06

Isso acontece com produtos também, na minha bolha do tiktok tem muito influenciador de corrida e de tanto ver e acompanhar você acaba querendo ter o que eles tem e comprar qualquer coisa que recomendem.

Like
bottom of page