Do amargor à doçura, da pele ao pseudofruto: a essência de Liniker

Liniker falando de amor não é novidade, mas agora, ela fala de um jeito completamente diferente. Em agosto, pudemos finalmente conhecer toda a beleza e magnitude de Caju, o sucessor de Indigo Borboleta Anil (2021) e segundo álbum solo de estúdio da cantora, que já lotou duas sessões na casa de jazz mundialmente conhecida, New Morning, e é responsável por entregar um projeto que tem como proposta principal questionar e reivindicar o amor de uma forma muito mais sensível, vulnerável e humana. 

Liniker / Foto: divulgação

Através de 14 faixas, a liricista nos guia sonora e textualmente em um universo particular, criado especialmente para a nova fase musical de sua carreira, convidando quem ouve a uma viagem intensa que desdobra seu percurso em faixas monumentalmente bem construídas e orquestradas, capazes de expor não só a beleza, mas a sutileza que reside nas confissões de amores simples, como nas faixas Veludo Marrom e Me Ajude a Salvar os Domingos. 

Explorando ainda toda a ousadia na experimentação dos sentimentos e dos mais diversos gêneros inclusos no disco, Liniker vai do arrocha, com a pernambucana, Priscilla Senna, em Pote de Ouro, passa pelo samba, com Thiaguinho, em Febre, até chegar em Deixa Estar, um pop disco que dispensa samples e conta com as participações de ninguém mais, ninguém menos que Lulu Santos, na voz e guitarra, e vocais de Pabllo Vittar. O resultado disso? Participações e arranjos que se mesclam em um grande, potente e bem articulado mantra solar. 

Ao final do álbum e da viagem, chegamos com certeza em um destino inteiramente novo, em que Liniker, disruptiva a tudo que é lógico, faz questão de deixar claro que agora não possui mais o medo de se dispor a seguir sua trajetória pelos mais bonitos caminhos que o amor – e a vida – oferece.

Mas agora que já conhecemos Caju, tal qual ela diz na faixa-título da obra, qual é o tamanho da demanda de uma artista como Liniker? 

É certo que, desde o lançamento, o disco não sai da boca do povo, atingindo o marco de 6 milhões de plays nas primeiras 24 horas de lançamento. Mas para além dos números e alcance em níveis estrondosos, a cantora enfatiza que o álbum ainda tem muito a agregar e anuncia um projeto documental. Dirigido pela roteirista baiana e ganhadora do prêmio internacional Sundance, Safira Moreira, o documentário narrará desde a produção inicial do álbum Caju, ainda no início da turnê de seu último disco, Indigo Borboleta Anil, até o início da aguardada turnê Caju Show Tour (que por sinal, vem esgotando datas oficiais e até extras em questão de segundos em todos os estados onde é anunciada). E a cantora garantiu aos fãs que entregará espetáculos grandiosos, assim como uma setlist digna de passar por todos os seus projetos.

Agora, para te aquecer, no clima da turnê que teve início na sexta feira passada (8), em São Paulo, e que já tem duas datas confirmadas em Recife, nos dias 12 e 13 de dezembro, a Guilhotina organiza, através dessa GuiList, uma revisitação por meio da ilustre discografia da artista e algumas das suas colaborações, afinal, seu nome não é caju à toa.

Foto: divulgação

1 - Zero

A gente fica mordido, num fica, né? / Deixa eu bagunçar você 

Em Zero, Liniker chega para falar da complexidade, mas também da beleza poética que um encontro pode ter. Além do encanto firmado na interpretação pela cantora, a letra da música serve como uma representação de todo o impacto causado após um encontro com aquela pessoa que vem de uma vez, nos deixa intensamente desconcertados e ainda assim estamos dispostos a passar por tudo de novo e de novo.

2 - 10 minutos (Melly feat. Liniker)

Nada é sem querer, querer, faço tudo na intenção / Lembra aquele dia 

em que eu peguei na tua mão 

Indicada ao Grammy Latino 2024 na categoria de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa, Liniker se junta à cantora Melly para falar sobre a intenção por detrás das ações, em uma canção sobre a urgência e a intensidade de um amor. A letra discorre sobre a simplicidade que os encontros mais simples possuem e como a presença do outro, quando é especial, não consegue ser ignorada.

3 - Diz quanto custa

Diz quanto custa pra essa ousadia acabar

Um barato total! Essa é a sensação de ouvir a parceria entre duas amigas de longa data. Aqui, Liniker convida Tássia Reis para lhe ajudar a interpretar uma letra que explora a dinâmica de um relacionamento em que a ousadia é uma atitude recorrente na tentativa de desestabilizar o outro e o ego parece dar as cartas.

4 - Psiu

Pra quem não sabia contar gotas cê aprendeu a nadar

Em Psiu, Liniker atinge uma profundidade melódica que, a essa altura, já é recorrente nos trabalhos da artista, como também sentimos em Intimidade ou até mesmo em Veludo Marrom. Liniker e os Caramelows, banda da qual Liniker era vocalista, exploram as profundezas do aprendizado em lidar com pequenos desafios da vida, o que consequentemente nos leva a enfrentar um oceano de possibilidades e incertezas, mas, no final, nos guia rumo ao alívio do amadurecimento.

Foto: divulgação

5 - Tua

Me chame de… tua

Devoção e conexão profunda. Em Tua, Liniker aborda a felicidade no sentido de completude que o amor carrega. Paciência e ciência são evocadas na letra de uma canção que representa a necessidade de se entender e aceitar as dinâmicas da relação em que se está. A repetição da palavra “tua”, várias vezes ao longo da canção, demonstra a entrega, a alegria e as emoções de finalmente pertencer a alguém.

6 - Intimidade

Soma, mas não some

E por falar em Intimidade… esta faixa em específico não é "só mais uma faixa", mas sim, um sentimento. Ao lado de um lindo piano, Liniker está disposta a invadir nossas almas e mostrar que a intimidade com quem se ama é uma das melhores coisas que podemos tecer em meio as nossas relações. 

7 - De ontem 

Teu porteiro me trata íntima / Já não me acha visita/tenhos rubros sinais de sossego

Em mais uma odisseia de amor, a liricista agora canta sobre sua perspectiva ao celebrar a vulnerabilidade de se permitir ser entregue ao outro nos percursos de uma rotina, um lugar onde as experiências “de ontem” encontram no carinho e afeto, a eternidade. Lindamente, é como se Liniker coletasse todo o esplendor da experiência que vem junto a paixão e transformasse na trilha sonora de um grande amor.

8 - Lili

Lili is a girl, almost twenty-five 

A irmã mais velha de So Special, penúltima faixa de Caju! Mostrando que não tem medo de se aventurar em outras línguas, Liniker agora canta sobre ela mesma da forma mais poética possível. “Lili”, nesta canção, é a própria artista, dessa vez narrando sua própria história, com palavras dedicadas aos momentos de sua vida em que ela aprende a cuidar de si mesma e amar sua verdadeira essência.

9 - Mel

Teus olhos na minha cara / Parecem me ver bem mais que eu

A faixa que encerra o Indigo Borboleta Anil majestosamente é um presente de Liniker para seus ouvintes. Com direito a uma nota de voz no início e acompanhada de uma letra que nos faz querer explodir em poesia, somos transportados para mais um transe melódico. Voz e violão nunca foi tão sutil, íntimo e poético.

10 - Oração (Linn da Quebrada feat. Liniker)

Mesmo que não nasçam / Mas vivem e vivem e vem

Linn da Quebrada em "Oração" / Foto: divulgação

Em uma interpretação emocionante de sua grande amiga, Linn Da Quebrada, Liniker se une a um elenco poderoso para a gravação do projeto #EstamosVivas, que destaca vivências da comunidade LGBTQIAPN+, com ênfase às mulheres trans. No dia da gravação do material audiovisual para o videoclipe da faixa, mesmo com todos os documentos que possibilitariam, juridicamente, o uso da igreja abandonada na qual as cenas seriam ambientadas, um homem alegando ser o suposto dono apareceu junto a dois camburões da polícia, exigindo que todas fossem embora e apagassem todo o material gravado. Com o auxílio de um advogado e das permissões garantidas pela prefeitura da cidade, as artistas conseguiram 1 hora restante para que tudo fosse gravado, o que nos rendeu uma faixa belíssima sobre viver, acima de tudo.